Você está pensando
em seguir pela carreira pública? Já vem estudando para concursos? Possui
dificuldade com os estudos?
Entrevistei Sandro
H. Chimisso, Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil e perguntei a ele as
principais dicas para ser aprovado em um concurso tão concorrido. Sandro foi
aprovado em concursos como os de Auditor e Analista da Receita Federal do
Brasil (2009), BACEN (2009), MPE/RS (2008), REFAP, entre outros. Atualmente
exerce a função de Chefe de Setor de Importação do Porto Seco de Foz de Iguaçu.
Segundo ele, não há milagre: existe foco, dedicação, estudo e equilíbrio
emocional. Confira como foi a nossa conversa:
1) Qual foi o teu interesse em realizar
um concurso público? Da onde veio esta ideia?
Eu
sempre tive essa ideia lá no fundinho da minha cabeça, desde os tempos da
graduação. Mas também tinha vontade de ser empresário ou trabalhar numa grande
empresa. Entretanto, com o passar do tempo, vi que trabalhar em uma grande
empresa não era algo que fazia muito o meu perfil. Quando me formei entrei
direto no mestrado, e ao acabar o mestrado não havia grandes possibilidades de
emprego. Participei de algumas seleções de trainee, em algumas fui até a fase
final, mas acabava morrendo na praia. Quando faltavam alguns meses para
finalizar o mestrado apareceu uma desafiante proposta de emprego em uma nova
faculdade particular, aceitei-a. Mas isso não me satisfazia muito, ter que
coordenar cursos, dar aulas, escrever artigos,... Achava tudo isso um saco.
Depois de quase 3 anos nessa função, fui demitido e vi que era hora de mudar,
de tomar novas decisões. Cheguei a cogitar um doutorado, mas isso ia fazer com
que mergulhasse mais ainda na área acadêmica. Abandonei essa ideia. Tentar ser
um empresário nessa época também não era uma opção, não tinha nenhuma ideia de
que negócio fazer, nenhuma tradição ou experiência na área. Meus pais são
professores e servidores públicos, não podiam me ajudar nesse sentido. Resolvi
não arriscar. Foi então que estudar para concursos pareceu ser a coisa mais
natural a fazer. Era algo que sempre pensei, e tinha facilidade para os
estudos. A questão era somente se teria disposição para estudar o necessário
para passar no concurso almejado. Uma pessoa que sempre me incentivou a fazer
concurso foi meu falecido avô, vô Ernesto. Durante a graduação, mestrado e
mesmo trabalhando ele sempre me dizia: “meu neto, porque tu não fazes um
concurso???”. E sempre que ele falava eu ficava com isso na cabeça. Com certeza
ele foi uma influência na minha decisão.
2) Quais as sugestões que você dá para
quem está se dedicando a um concurso?
Muito
estudo, muito estudo e mais muito estudo, rsrsrs. Não tem segredo! Pra passar
em um bom concurso tem que estudar muito mesmo, e quanto mais se estuda mais se
aprende a estudar. Com o tempo vemos o que funciona com a gente. Tem aqueles
que aprendem melhor sozinhos, lendo. Outros absorvem melhor o conteúdo
assistindo aulas, escutando gravações, etc. Tem gente que gosta de fazer
resumos, outros só marcam partes importantes nos livros e as relêem de tanto em
tanto. Conheça as suas fraquezas e as suas facilidades. Veja o que funciona e o
que não funciona pra ti. Se não estás acostumado a estudar, ter essa noção pode
levar algum tempo. Pense nisso como um investimento.
3) É importante manter o foco num
concurso só ou é melhor fazer mais de um?
Eu
acredito que é importante focar em pelo menos uma área. Por exemplo, concursos
da área fiscal, ou concursos da área jurídica, ou concursos para a área
econômica e área bancária, ou concursos para agências reguladoras e assim por
diante. Como concursos para a mesma área costumam ter matérias semelhantes,
fica mais fácil de organizar-se dessa forma, mantendo o foco em alguma área
específica. Acho que tentar todos indiscriminadamente não é uma boa estratégia.
4) Que dicas deixas para administração
do tempo de estudo?
Isso
vai depender da disponibilidade de tempo de cada um. O importante é manter uma
rotina diária e uma organização de estudo das disciplinas que serão exigidas no
certame em foco. Tem que se estudar todo o conteúdo previsto para o edital do
concurso, e para isso necessita-se de tempo. Mas também há que se reservar
tempo para descanso, uma cabeça cansada não aprende direito. É importante
dividir o estudo por disciplinas, a fim de cobrir todo o edital. A atenção que
será dada para cada disciplina vai depender de vários fatores, entre eles: o
tamanho dela, o peso que ela terá na prova e a dificuldade que se tem de aprendê-la/assimilar.
De nada adiante gabaritar uma matéria e não fazer o mínimo em outra. Isso é
causa de eliminação. Tentar manter hábitos saudáveis é importante. Fazer as
refeições diárias, praticar alguma atividade física todo dia, nem que seja por
30 minutos. Fazer uma planilha para organizar os compromissos da semana, com
horários de estudo e demais atividades, anotar a quantidade de horas estudadas
de cada matéria, assim dá pra saber se há alguma matéria sendo deixada de lado
(tendemos a fazer isso, estudar mais aquilo que gostamos e deixar de lado
matérias que não nos atraem muito e que geralmente são as que mais temos
dificuldade). Existem livros e sites na internet que dão diversas dicas nesse
sentido.
5) Uma das lamentações que mais escuto
em pessoas que estão querendo iniciar a se preparar para o concurso é a sua
falta de disciplina para estudar sozinho. Alguma dica para essas pessoas?
Disciplina
é algo que se adquire. Não se começa a estudar 8 ou 10 horas por dia no
primeiro dia de estudo, é algo que vai gradativamente acontecendo. E apesar da
possibilidade de fazer cursinho preparatório, o que adianta mesmo é sentar a
bunda na cadeira e estudar. Cursinho é bom quando o professor é bom, pra tirar
dúvidas, fazer um social depois de tanto tempo estudando em casa sozinho, ver
como está a concorrência, atualizar conhecimento, material e pegar dicas. Eu
sempre estudei sozinho, em casa mesmo, rendia melhor assim. Tem gente que
consegue estudar em qualquer lugar, até na beira da praia.
6) Por que seguir a carreira pública ao
invés da privada?
No
meu caso foi por admiração da carreira que escolhi, da responsabilidade e das
atribuições do cargo que exerço. Considero a Receita Federal uma instituição de
respeito. A remuneração também foi fator determinante. Dificilmente na carreira
privada eu começaria em uma empresa com um cargo de responsabilidade equivalente
e com a mesma remuneração que a de um Auditor Fiscal da RFB. O sucesso
profissional na área pública depende muito mais do teu esforço pessoal e de
fatores objetivos do que de indicações ou subjetividades.
7) Quais as vantagens e desvantagens de
seguir pelo caminho da carreira pública na tua visão?
A
relação de trabalho é regida por lei, não há contrato de trabalho, os direitos
e obrigações são mais bem definidos e, na maioria das vezes, respeitados. Todo
começo de mês o pagamento é creditado na tua conta, sem falta. A estabilidade
também é uma grande vantagem, te permite planejar a longo prazo com mais
tranqüilidade. É claro que na iniciativa privada as possibilidades de ganhos
podem ser bem maiores, mas as perdas também. Não se fica milionário no serviço
público, mas se vive bem, com boa qualidade de vida. O status social que certas
carreiras proporcionam também pode ser um atrativo.
8) Existe um perfil específico de
pessoas que são aprovadas em concurso?
Meus
colegas de curso de formação eram maioria jovens, com menos de 30 anos. Mas
havia também pessoas bem mais velhas, com mais de 50 anos. O que todos tinham
em comum era a quantidade de horas de estudo, todo mundo tinha estudado muito,
tinha aberto mão de muita coisa para atingir o seu objetivo. Acho que o perfil
é bem variado, tem pessoas de todas as classes sociais, desde o pobre até o
playboy, diversas formações profissionais, etc. As características que tinham
em comum eram a persistência, determinação, disciplina, fé e vontade de passar.
9) O que ajuda e o que atrapalha na
hora da preparação para o concurso? E na hora da realização da prova?
No
período de preparação para o concurso o apoio da minha família foi um dos
aspectos mais importantes. A utilização de bons materiais também é crucial, e
discernir que material é bom depende de boas dicas ou de tempo para tentativas,
erros e acertos. Tanto no período de preparação quanto na hora de realização da
prova é importante manter a calma e permanecer tranqüilo. Assim como é
importante ter uma estratégia para estudo, é necessário também ter uma para a
hora da realização da prova. Deve ser previamente determinado quanto tempo vai
ser despendido em cada matéria da prova, para não se correr o risco de faltar
tempo e não fazer os pontos mínimos necessários nela. Assim, estratégia é
fundamental antes e durante as provas.
10) O emocional conta na preparação e no
dia da prova?
Sim,
conta muito. Eu lembro que quando saiu o edital para o concurso da RF, veio com
muitas novidades. Teve gente que estava estudando há muito tempo e mesmo assim
perdeu a cabeça, achou que não seria capaz, desistiu. Lembro também, já na
minha reta final de estudos, depois de estudar toda uma matéria nova, fiz uma
prova simulada e só consegui fazer 50% de acertos. Aquilo me abalou de tal forma
que não consegui estudar o resto do dia. Pensei, num primeiro momento: como eu
fui tão mal assim num simulado logo após fechar o conteúdo dessa matéria??? Vou
me ferrar no concurso!! Mas no dia seguinte recuperei o ânimo, pensei no
restante das matérias, no tempo que estudei e foquei na vitória. Não seria uma
matéria que me derrubaria. No final deu tudo certo, o simulado dessa tal
matéria foi mais difícil que a prova do concurso, rsrsrs.